domingo, 25 de outubro de 2009

Opa.

-Vão me prender em uma daquelas cápsulas de vidro sabe? Abrir meu abdômen e deixar ele exposto a visitação pública, lá na praça Afonso Pena.

-Entendi.

-Sempre achei que faltava alguma coisa naquela praça, mas nunca imaginei que seria eu.

-Acho que não é você, necessariamente, mas sim um monte de órgãos vitais a mostra.

-Mas por que me escolheram? Eu devo ser especial,de alguma maneira.

-Você deve ter sido a única pessoa que concordou com isso,na boa..Porque apesar de tudo estar devidamente desinfetado,seus batimentos cardíacos estarem sendo monitorados e blá blá blá, existe um risco.

- Qual risco?

-Os riscos óbvios.

-Tipo,morte?

-Aham.

-Olha, de acordo com todos os meus cálculos, eu provavelmente morreria em uma maca de hospital,cheio de tubos, com uns aproximados setenta anos e completamente sozinho. Morrer com os órgãos expostos na praça Afonso Pena me parece bem mais digno.

-Se fosse na praça do Sapo eu acho que seria melhor.

-Que nada, tá ótimo ali. É perto do banco.

-Juro que me esforcei,mas não entendi a conexão. O que tem o banco?

-Depois que eu ficar lá o tempo estipulado, e ser costurado e tudo ficar certo de novo, eu já passo lá e pago meu cheque especial.

-Malditos cheques especiais.

-Nem me fale. Sou todo fodido com isso,esse lance de grana.

-Todos nós da Consagrada República dos Seres que Venderam a Alma.

-Verdade,todo mundo da República não sabe lidar com seus bens.

-Falando nisso, tá na hora de dar uma varrida na Rep, uma vez escorreguei e cai de costas no
chão e tive que tomar um banho.

-Ha ha ha ha. Vou varrer ela essa semana.

-Beleza...Bom,então vou nessa. Agente se vê mais tarde então.

-Tá certo, você vai ir me ver ?

-Am?

-Na praça.

-Que?

-Órgãos,eu,exposto,praça,lembra?

-Ah! Vou sim,pode deixar.


terça-feira, 6 de outubro de 2009

Jonjô.

"É uma lei fundamental do Universo: nada pode ser conseguido sem uma espécie de abdicação. Porém,se você por um acaso tentar burlar essa lei, as chances de ser bem sucedido são relativamente altas.
Por isso,as coisas andam fedendo tanto."

Disse Jonjô,enquanto limpava o cu com um papel de embrulhar carne,vulgo papel higiênico econômico.
Sempre tinha ataques de reflexão quando estava expelindo alguma coisa do corpo. Suor,urina,vômito,gozo,merda,menstruação. A secreção é o de menos, é o ato de soltar alguma coisa de caráter biológico que a fazia involuntáriamente soltar algo de caráter espiritual/mental/onírico.
Um jeito todo original de ser produtiva,de qualquer maneira.

sábado, 3 de outubro de 2009

Ap.

Olhei para ela,com uma certa curiosidade infantil.Pensei que o seu rosto lembrava uma grande folha de eucalipto. Nunca tinha testemunhado esse formato facial exótico. Não foi bonito.Ela rangia os dentes,dizia maluquices e fumava um baseado atrás do outro. E eu observando toda aquela movimentação acontecendo dentro de casa.Como ela tinha entrado na minha casa?Não fui eu que abri a porta,disso tenho certeza. Fazia anos que eu não abria a porta para ninguém.Pela janela também não poderia ter sido,estávamos no décimo segundo andar.Que porra...Foi então que me dei conta...Que aquela mulher com cara de eucalipto já estava ali muito tempo antes de mim, mastigando o ar,cuspindo o tempo. Só havia notado a sua presença naquela momento porque parei de usar os meus habituais óculos escuros.