quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Diálogo com o Corcunda.

" Tu deixa o caderno, no qual escreve suas coisinhas, em um lugar bem visível. Na mesa da cozinha por exemplo, pois me conhecendo bem, sabe que mais hora ou menos hora eu volto para aquela mesa para fumar um cigarro pós-dia-de-trabalho-escroto-mal-remunerado.
Então vejo um caderno aberto e meu primeiro impulso curioso é lê-lo. Na cama, comento com você o quão talentosa é, e de como o mundo é diariamente agraciado com essa sua mentezinha brilhante. É um ótimo plano de divulgação, minha querida. Muito sutil ."

- O que você faz quando está entediada?
-Se estou entendiada é porque não tenho nada para fazer.
-Você entendeu a pergunta.
-Eu como.
-Come o que?
-Biscoito,geleia e queijo branco.
-Você tem dinheiro então.
-Am?
-Geleia e queijo branco são caros.
-Não tenho muito dinheiro, só invisto mal o pouco que resta.
-Como comprar cigarros.
-Não, esse é um sábio investimento.
-Ah.
-E você, o que faz quando está entediado?
-Eu como.
-O que?
-Mulheres.
-Você tem dinheiro então.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Zoo.

Se eu perguntar o que você é, em diferentes horários do dia, a resposta será uma infinidade de animais. Um livro de biologia completíssimo, destes acadêmicos, com termos estranhos que ramente serão utilizados em uma conversa banal.

Ao amanhecer, me vejo deitada com um imenso morcego,embalado por camadas e camadas de cobertor. Fatigado,se escondendo dos raios impertinentes do Sol,que penetram pelo vidro de uma janela sem cortinas. O rosto amassado e cheio de marcas. Pelos de rato saltando do rosto.
Ao entardecer, me vejo acompanhada de um Peixe Boi, que entre outras coisas é preguiçoso e complacente. Com uma face meio idiota e serena, esperando alimento.
Ao longo do dia, se torna uma cobra esguia, com dentes que escorrem peçonha. Cores neutras,camuflada entre a mobília barata que foi paga em suaves prestações. Mais tarde, se transmuta em camelo, cansado de tanto andar pelo deserto chicoteado por um beduíno.

Uma palavra sobre beduínos. Esses queridos nômades comerciantes, que habitam o local conhecido como Árabia Saudita, possuem um gosto muito peculiar para mulheres. Basicamente,estas tem de ser gordas. Quando digo gordas, entenda por esféricas. Desde de crianças, as meninas são empanturradas de alimento, para adquirirem todo o tecido adiposo necessário para que se tornem atraentes para o sexo oposto.
As mulheres beduínas, tem com função carregar suprimentos em seus saiotes e fornecer uma sombra agradável para o marido.
Ou seja,elas são praticamente geladeiras-guarda-sol.

Interessante.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Uma dose de muisca erudita, para quem gosta.
Send In The Clowns, escrita por Stephen Sondheim.

http://www.youtube.com/watch?v=iQDiKGRut80

Fly,fly,fly.

Geladeiras in the sky , e um monte de outras coisas coloridas e pesadas que definitivamente não deveriam estar voando por ai assim tão despreocupadamente.

- É quase um crime andar despreocupadamente por ai hoje em dia, todos pensam que você é um vagabundo –

Logo todos vão pensar que as geladeiras in the sky são vagabundas. Fica estranho.Os piores adjetivos criados pelo homem quase sempre só servem para ele mesmo. Chame uma ovelha de vagabunda; o que diabos uma ovelha tem de fazer a vida inteira se não pastar,defecar e pastar novamente? E se o “vagabunda” tomar o outro significado, a coisa piora de vez: uma ovelha rodando bolsinha próxima a cerca de arame-farpado esperando algum caipira zoófilo.

-Engraçado como realmente parece que se pode estocar o Tempo dentro de uma caverna, proteger com folhas e gravetos, e depois usá-lo quando bem entender. Como se fosse uma espécie de...Grão [? ] Como trigo ou soja... Pensam que o Tempo é um punhadinho de soja. Isso não soa um tanto ridículo para você?

-Parece ridículo sim.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Bobagens.

" Vou te por lá fora. Esse seu rabo me irrita"

Disse ela,aparentemente olhando na minha direção. Só depois que tracei aquela linha imaginária que tinha início em sua retina,é que percebi que na verdade olhava para a viralatinha que eu tinha adotado a mais ou menos quatro semanas. Menos mal, seria chato se meu rabo - pequeno - irritasse alguém.

Deitei ao lado dela na cama de casal de sempre.Já passava das seis horas da manhã,disso eu tenho certeza. Ainda insone,fiquei encarando aquele rostinho ao meu lado,com uma certa curiosidade infantil. Ela coça o nariz,e por um instante fiquei alegre com a possibilidade de ter compania.Mas ela continuava a dormir. Queria ter dito algo,algo do tipo " não consegui pregar os olhos a noite interia meu bem, e sabe agente podia ir ver o Sol nascer la na avenida...Não que eu ache o raiar do dia a coisa maaais linda desse mundo,mas você sabe...eu não dormi."
A cama estava com um lençol rosa. É triste acordar de manhã,as pálpebras abrindo - barulho de esparadrapo seco se desgrudando da pele - e ver aquele lençol rosa...Tão claro,tão alegre,tão "cheguei",tão...tão...rosa. É isso ai, e aqui estou eu de novo falando sobre lençóis,só que dessa vez de uma forma completamente não-erótica,livre de qualquer coisa que as pessoas normalmente associam quando se fala de lençóis. Mais um cliché textual.

Passei a tarde inteira assistindo programas policiais. Anulei qualquer possibilidade de um dia matar alguém depois de descobrir que detetives analisam moscas para descobrir quem/quando/onde. O que foi uma decepção leve, eu gostaria de ter a liberdade de saber que um dia eu poderia matar alguém. " Eu poderia matar você cara,mas sabe...Eles analisam moscas,e então deixa pra lá. Anda na sombra irmão,anda na sombra. "

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Papel

A pior bosta que podem fazer é me presentear com um bloquinho de anotações. Daqueles impecáveis,com marca d'água de algum logotipo no centro das páginas. Meu Deus, como isso me perturba.
Passo o dia me convencendo de que sou muito ocupada para ficar riscando em um maldito bloquinho, e preciso cumprir meus afazeres mais urgentes... Não que eu realmente tenha algum. " Oh não, eu tenho que limpar o sótão, não posso ficar riscando bloquinhos. " Eu nem se quer tenho um sótão,e se tivesse certamente seria o local geográfico com maior quantidades de fungos por centímetro quadrado. Nunca tive muita aptidão com qualquer coisa ligada a serviços domésticos, tudo que fuja muito de lavar a louça para mim é quase impraticável.

Enfim,canetas,lápis,penas,lapiseiras começam a surgir miraculosamente em todos os cômodos da casa e eu finalmente admito para mim mesma :"Ah que se dane, você não tem NADA para fazer...Vá perder horas e horas no tal bloco com marca d'água. " E a sensação de preencher aquelas folhas é quase tão boa quanto terminar uma " Palavra Cruzada" no nível avançado,faz bem para o ego de qualquer um...Você realmente se sente uma pessoa melhor sabendo o nome de um imperador asteca da oitava dinastia, isso é tão engraçado.

Inclusive,esse texto foi escrito originalmente em um bloquinho. Com marca d'água. Às 05:35 da manhã.